__ Sim.Você tem a Síndrome de Ehlers Danlos.
Podia até ser um momento
dramático, com violinos e tambores tocando para a notícia fatal. Mas, não. O
que senti foi um alívio imenso. Finalmente tudo o que vivi nesses quarenta e
tantos anos fez sentido. Desde o refluxo nos poucos meses de vida até essas
dores e inflamações inexplicáveis em meus ombros e antes tão ágeis pezinhos.
Finalmente a explicação para tantas habilidades ao dançar, tantos tropeços,
tantos roxos nas pernas que nem um milhão de topadas em mesinhas explicaria. Como peças de
um gigantesco quebra-cabeça, compreendo o porquê da secura nos olhos, da
insuportável dor de cabeça, do intestino que "irrita" meus dias, dos
joelhos que se beijam, das mãos que se contorcem, das tantas "ítes",
da pele elástica, do sono que não vem, do cansaço em plena luz do dia, da
coluna descompensada antes da velhice, dos pés que não sustentam o peso do corpo, entre tantos outros sintomas.
O que me foi dado como uma
notícia fatídica, salvou o meu dia, a minha existência. E assim começou o festival de
perguntas ao médico-descobridor. A maioria das respostas encontramos com ajuda
da fantástica internet, do tudo-sabe, o Sr. Google. Entro em mil grupos
relacionados aos tema, faço mil descobertas. Sou encaminhada a mais um punhado
de especialistas, os mais estudados do assunto por aqui, na capital do país. Confirmam o
diagnóstico. Tudo ainda dói. Ninguém tem a solução para nenhuma dor. Sou alérgica até ao anti-alérgico.
Calma, é só uma desordem genética. Mas, de
onde será que veio? Vasculha daqui e dali. Os caminhos se ampliam. Vou
informando um e outro sobre a novidade, a descoberta da famigerada herança
genética. Me olham torto, surpresos. Uns dizem: " Igual a mãe, sempre doente,
tadinha." E, entre amigos e familiares, começam as melhores recomendações: "Toma isso, toma
aquilo". E as condenações: "Você TEM que dormir.", "Você
TEM que ir pra academia.", "Você TEM que comer carne!"(nasci sem
conseguir apreciar a iguaria), "Você precisa é rezar!". No final das
contas, até seria interessante conseguir mesmo fazer a maioria das receitas,
conseguir caminhar, dormir com as cortinas escancaradas, ser a mais fitness da família, ter um paladar que
aceita qualquer sabor e um nariz que não capta tudo que é cheiro. E mais
interessante ainda, para mim e para qualquer paciente de uma doença genética,
rara, incurável e invisível é ter uma mão que apoie dentro do próprio lar. Porque depois de um diagnóstico assim, olhar pra frente passa a ser uma
possibilidade encantadora, mesmo que ainda não tenhamos respostas.
Diariamente ouço e leio
depoimentos das consequências de se ter uma doença invisível. A maioria cruéis.
A não validação de uma dor dilacerante é maior que a própria dor. Ter uma
equipe multidisciplinar que entenda cada doença rara é um luxo para poucos. E,
enquanto a resposta genética, médica e científica não chega, o que cada portador de SED ou
TEH necessita é ser visto como ser humano. Cada familiar que nos apoia, ou
seja, abandona as críticas, as reclamações, os julgamentos, procura informar-se, compreender as nossas variáveis limitações ou tem a paciência em aguardar as respostas científicas para melhores tratamentos, nos traz a esperança de
um dia melhor, mais digno de ser vencido. A SED não é uma sentença. Mas é um desafio constante. O
diagnóstico nos faz olhar para nós mesmos, compreender nossos limites e
capacidades, buscar soluções, identificar dias bons e outros nem tanto, saber o que é possível
fazer em cada um, saber como continuar a usufruir da beleza da Vida, saber um
novo jeito de aproveitar os dias e Viver.
R.S - Criatura feminina, 45
anos. Diagnóstico há 02 anos.
Você é um portador de SED( Síndrome de Ehlers Danlos)?
Conte para a gente como foi sua descoberta e quem te apoia.
Conte para a gente como foi sua descoberta e quem te apoia.
Junte-se à nós.
Para todos que possuem o diagnóstico de uma doença rara e invisível o maior conforto é ser acolhido. O mais importante é o acolhimento familiar, a caminhada é longa e sem ele fica praticamente impossível seguir. Mas o apoio da equipe médica torna-se imprescindível para que possamos acreditar de que é real o que sentimos.
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